sábado, 13 de abril de 2013

Biblioteca sobre Argentina - Disposición Final - Ceferino Reato

Eu gostaria de dizer que é óbvio à todos que uma ditadura não é algo bom mas sabemos muito bem que não é essa história de um consenso pelos direitos humanos e pela ordem democrática é uma ilusão para dizer o melhor.
O nosso continente quase todo desconhece rupturas da história democrática e países
Videla na prisão e a capa do livro de Ceferino Reato
como o Brasil e a Argentina compartilham uma história de rupturas seguidas de governos democraticamente eleitos sendo que as últimas ditaduras cívico-militares ocorrem no Brasil entre 1964 e 1985 (21 anos) e na Argentina entre 1976 e 1983.
O Tenente General Videla, o Brigadeiro Agosti e o Almirante Massera formaram a primeira junta do Processo de Reconstrução Nacional (ou simplesmente Processo) cuja origem é bastante diferenciada de nossa ditadura e tem origem , por mais paradoxal do que possa parecer, na debilidade de um governo constitucional que, incompetente para dar conta do combate às guerrilhas que surgem ainda no governo Perón e se agudizam no governo de Isabel Martinez de Perón, Isabelita, esposa e vice-presidenta que assume na morte do General, além de uma grande decadência em vários aspectos, principalmente o econômico e institucional.
Dois grupos guerrilheiros o ERP (Exército Republicano do Povo) de matriz guevarista e os Montoneros de origem peronista que protagonizaram ações que desafiaram o governo constitucional e que não encontraram uma reação adequada e com a contínua degradação da situação o presidente Luder, presidente do Senado em exercício com o afastamento de Isabelita por questões de saúde, recorre aos militares para a repressão o que, em termos institucionais, é o mesmo que decretar a falência do governo e um "convite" ao golpe de Estado.
Listas são elaboradas pelos militares e no momento que tomam cargo do governo derrubando e prendendo Isabel Perón, iniciam uma cruel repressão que atinge a pelos menos 8.000 argentinos e estrangeiros supostamente ligados à subversão.
Os métodos utilizados são cruéis e tem como base os que foram utilizados pelos franceses na guerra da Argélia, retratadas com maestria pelo cineasta italiano Gillo Pontecorvo em seu filme "A Batalha da Argélia", um clássico.
O livro de Reato centra, sem limitar-se, ao depoimento de Vidella em prisão militar, acerca dos acontecimentos que desencadeiam esse processo de morte, tortura e abuso, além da subtração de menores nascido nos cárceres da ditadura sendo que suas mães eram mortas e os corpos jogados ao mar nos chamados "vôos da morte".
Esse depoimento assusta pela dissimulação, desrepeito pela vida dos adversários políticos e pela ausência de algum arrependimento ou auto-critica. Ao contrário, não lastima, afirma a absoluta necessidade e convicção de que o feito e os resultados cruéis que foram obtidos na repressão ao próprio povo, justificado.
O processo termina em 1983 depois da absurda Guerra das Malvinas que utilizou uma causa nacional em nome da continuidade do Processo. Não resolvem a economia, agudizam o desmonte do parque industrial que seria agudizado mais tarde por Menem (isso é outra história) e falha em dar conta dos desafios da economia em espiral descendente.
O titulo do livro, Disposición Final (disposição final) mostra mais um elemento terrível no cinismo dos militares já que disposição final é um jargão que indica que o material inservível deve ter uma disposição, ou seja, ser destruído. 
O livro merece ser lido no mesmo contexto que se lê obras das ditaduras diversas do mundo. Não há "dita branda" como alguns afirmam e na verdade apenas há ódio, assassinato e destruição. Uma lição que ainda temos de aprender.

Serviço:

Ceferino Reato
Disposición Final
Editora Sudamericana
Disponível na Livraria Cultura - http://www.livrariacultura.com.br
Preço: R$ 69,00

Blog do autor: http://blogs.perfil.com/ceferino/