terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Memórias sentimentais de Buenos Aires: Cenotáfio do Retiro

“Os guerreiros são os verdadeiros pacíficos. Não pacifista, pacíficos”.
Pierre Closterman no documentáiro “Um brasileiro no Dia D”


O que faz um jovem de treze  anos ser tão fascinado por um tema tão árido como a guerra? Uniformes, armas, aviões? Impossível saber. No entanto, foi esse tema que ocupou meu tempo de intervalo de aulas por pelo menos dois anos sempre como algo distante no tempo e no espaço.
Como poderia adivinhar que poucos anos depois a guerra estaria mais próxima do que se poderia imaginar? De muito perto a mais distante, acompanhei a Guerra das Malvinas com uma paixão desmedida, sem encontrar paralelo.
Tanto isso é verdade que outro dia, em meu escritório, recebi uma pessoa para tratar de assuntos diversos e ao final, na sagrada hora do café, ele me perguntou:
- Desculpe mas você não estudou no CLQ?
Ante minha concordância me fez uma afirmação surpreendente:
- Pois então, eu lembro de você nos explicando acerca da Guerra das Malvinas no ônibus. Você nos explicava sobre armas, aviões, barcos, as batalhas... Tanto que quando fui à Buenos Aires lembrei do que nos falava.
Talvez isso permita aquilatar o espaço que essa guerra sobre a qual ainda encontro-me  ainda sedento por
Minha primeira visita ao Cenotáfio - Junho de 2011
conhecer mais e entendê-la em seus matizes e complexidades. No entanto, há uma experiência que pela primeira vez afrontei: a questão dos caídos e dos veteranos.
Essa última dimensão tenho, com muito orgulho, satisfeito através do contato com pessoas de diversas armas mas a dimensão dos mortos tive quando fui à Buenos Aires em 2011, através do Cenotáfio.
Confesso que , ao resgatar as memórias daquele momento no inverno daquele ano da volta, a  sensação foi de um extremo vazio. Senti um impulso de saudá-los militarmente mas o que consegui fazer foi olhar para aquelas placas de mármore negro  em fundo vermelho e ter a dimensão imprecisa de quantos faleceram, imprecisa por ser um nome mas que remetia a histórias que, ao menos parcialmente, fui conhecendo por relatos em livros e na memória de cada veterano que me coube conhecer.
Ali está o nome de Julio Cao, o professor que escrevia cartas para seus alunos , de Martel cujo avião Hércules foi derrubado por um Harrier,  os 55 pilotos da Força Aérea, dos  323 marinheiros do Belgrano,  pessoas que  fizeram o maior sacrifício que qualquer um possa fazer. Aquele momento foi o confronto definitivo com a crueza da guerra só superado por aqueles que viveram pessoalmente a realidade dela. Não digo que meu gosto por assuntos militares tenha diminuído, impossível, é parte de mim mas como um imã , aquele monumento em Retiro me chama à realidade e, sinceramente, gosto do fato dele ser chamado, singela mas poderosamente de “A los caídos em la gesta de Malvinas y Atlântico Sur” até porque o título de “herói” é algo muito particular e com sentidos muito divergentes, dependendo de sua posição em um conflito.
Sinceramente, não arriscaria um prognóstico sobre o desenlace da chamada “questão Malvinas” e o justo reclame argentino por elas, apenas penso que jamais uma guerra volte a ocorrer na questão da soberania pleiteada.
Confesso que sou inocente o suficiente para seguir acreditando que a “pena é mais poderosa que a espada”  e que aos conflitos se possa contrapor a capacidade de negociação e resolução pacífica para que não tenhamos mais monumentos e todos os heróis sigam vivos.